"Domestic" series

Em português esta sequência de imagens pode intitular-se "Fragmentos de uma vida doméstica". É uma reflexão fotográfica, coreográfica sobre o dia-a-dia entre paredes, onde a arte é simultãneamente ameaçada e actualizada pela domesticidade humanas.

Dias cheios de rotinas solitárias, de solidão, de práticas domésticas - ligadas à higiene pessoal, à confecção de alimentos ou, entre outras, à manutenção da casa. Muitas destas actividades têm um carácter monótono-repetitivo e apresentam-se como necessárias. São de tal modo absorventes que anulam muitas das vezes a possibilidade de outro tipo de actividades criativas ou contemplativas.

Esta ameaça destruidora é o álibi para a produção destas imagens. A máquina intromete-se nas acções quotidianas para quebrar a rotina e esteticizar o real, transformando-o. As ambições clássicas de registo objectivo, documental da fotografia, diluem-se na medida em que a máquina é aqui um agente impulsionador e produtor de ficções narrativas. A fotografia revela a poesia no tédio atemporal, hipnótico das acções quotidianas. Arte e técnica salvam-se mutuamente!

Decidi igulmente incluir imagens da série fotográfica "Auto 77" no capitulo da domesticidade já que ainda que levante questões próprias ambas as séries têm em comum tanto o modelo como a casa.





































"Auto 77" series



"Auto 77" é uma continuacão, desenvolvimento de um projecto mais antigo intitulado "Natureza mortográfica". A morte é o tema, conceito, acontecimento que faz despoletar a acção, desde logo da vida por oposicão à morte. O corpo do fotógrafo, modelo é o corpo da morte simbólica que a técnica fotográfica representa. Corpo exposto, mortificado frente à câmara, dor e prazer.

O culto das imagens, e da fotografia em particular, no nosso tempo informa-nos da relação intrínseca entre tecnologia e morte. A fotografia exerce todo o seu fascínio na iminência do desaparecimento dos seus modelos. Está na sua natureza expressar, servir a morte, o medo e a inevitabilidade dela.

"Auto77" é um espasmo criativo, uma incontinência de registo. À consciência da morte acrescenta-se a postura fetichista que a contemporaneidade, o modelo tem face ao corpo e imagem do mesmo. O fotografo improvisa uma representação de combate, não só contra a morte (tendo em vista uma hipotética salvação artística?), mas também contra a sociedade, contra as suas imposições de normas alienantes.