Dias cheios de rotinas solitárias, de solidão, de práticas domésticas - ligadas à higiene pessoal, à confecção de alimentos ou, entre outras, à manutenção da casa. Muitas destas actividades têm um carácter monótono-repetitivo e apresentam-se como necessárias. São de tal modo absorventes que anulam muitas das vezes a possibilidade de outro tipo de actividades criativas ou contemplativas.
Esta ameaça destruidora é o álibi para a produção destas imagens. A máquina intromete-se nas acções quotidianas para quebrar a rotina e esteticizar o real, transformando-o. As ambições clássicas de registo objectivo, documental da fotografia, diluem-se na medida em que a máquina é aqui um agente impulsionador e produtor de ficções narrativas. A fotografia revela a poesia no tédio atemporal, hipnótico das acções quotidianas. Arte e técnica salvam-se mutuamente!
Decidi igulmente incluir imagens da série fotográfica "Auto 77" no capitulo da domesticidade já que ainda que levante questões próprias ambas as séries têm em comum tanto o modelo como a casa.